sábado, 12 de fevereiro de 2022

Questões profundas, tempo I


Convidamos o leitor a navegar por quatro textos que tratam de temas que exigem uma boa reflexão, e que compõem momentos diferentes de pensamentos que se interligam entre si, apresentados como tempos, I, II e III e IV.  Onde o Tempo I trata o - Nazismo, fascismo, e o perigo às sociedades; já no Tempo II - Equiparar comunismo e socialismo ao nazismo, é má fé; e na sequência o Tempo III - A destruição da educação como política; e o  Tempo IV - Relações internacionais e geopolítica, e suas influências na sociedade.   

 

TEMPO I   -  Nazismo, fascismo, e o perigo às sociedades


Nazismo e Fascismo - Diferença.com

Nazismo - TodaMatéria

Nazismo: você conhece a política disseminada por Hitler? POLITIZE 09.02.2022 

Monark é desligado de podcast após defesa de partido nazista - Congresso em Foco 08.02.2022 

 

As recentes discussões e confusões sobre liberdade de expressão, direitos de escolhas e ação política, envolvendo manifestações condenáveis de cunho nazifascistas, e reações que apontam riscos e nítidas ameaças à democracia, ao estado de direito, e mesmo à integridade física de pessoas e outros direitos individuais e coletivos dos brasileiros, bem como outras questões levantadas por supostos defensores de uma liberdade absoluta, e são o foco deste primeiro conjunto de reflexões que levamos à todos, e surgem à luz do triste episódio que envolveu o FLOW Podcast, protagonizado pelo influenciador Bruno Aib (o Monark), e em dado momento pelo deputado Kim Kataguiri (DEM SP), numa conversa com a também deputada Tabata Amaral (PSB SP),  que repercutiu bastante negativamente nos últimos dias, dada a gravidade e teor da conversa.

Não é mero erro, defender expressões nazifascistas, é estimular ódio e perseguições, violência e mortes. É crime sim, e não temos que ter tolerância.

 

Campos de concentração nazistas - Wikipédia

Kim Kataguiri se desculpa após fala sobre nazismo em podcast - Último Segundo 11.02.2022 

 


                        Hoje na Segunda Guerra,  A rendição do 6º Exército alemão em Stalingrado

 

Talvez por ser tão impactante os fatos, é que o deputado Kim Kataguiri se apressou a pedir desculpas sobre a sua afirmação de que a Alemanha "errou" ao criminalizar o nazismo e esquecendo o que na prática representa as suas palavras, uma dissociação das ideias nazistas e dos atos que mataram milhões, principalmente entre judeus (não necessariamente em batalhas na 2ª Guerra Mundial, mas em perseguições indiscriminadas e submissão a métodos irracionais de extermínio),  o que pode lhe causar uma justa cassação de mandato (com fortes articulações na Câmara Federal neste intuito).

 

Monark e responsáveis por podcast podem pagar indenização e ser presos por apologia do nazismo, diz MP de SP; Adrilles é investigado - G1 SP 10.02.2022

 

Monark é desligado do Flow Podcast após fala sobre nazismo — Foto: Divulgação
Foto divulgação influenciador Monark -  Reproduzida do portal G1


Justiça dá 48 horas para Flow retirar falas nazistas de redes sociais ... - UOL 10.02.2022

 

Trechos da fala de Monark no podcast são um ultraje a vítimas do nazismo, aos novos alvos de neonazistas e aos cidadãos minimamente conscientes do que representa defender uma forma de ação baseada em ódios. Diz o falastrão:

  • Monark: “Eu acho que o nazista, tinha que ter o partido nazista reconhecido pela lei”. " A questão é, se o cara quiser ser um antijudeu, eu acho que ele tinha o direito de ser.”

 

Resumidamente em vários trechos das conversas no podcast, há muito mais que erros ou equívocos de um polêmico influenciador e um dos seus convidados, com uma defesa aberta de uma postura de total liberdade de expressão, que nas suas afirmações e confusões "filosóficas" incluía clara apologia ao pensamento e atos nazistas, ignorando consequências e riscos de tal conduta, e que em alguns trechos foram reforçadas por intervenções do deputado Kim Kataguiri. Aliás lembremos que durante a ocorrência do nazismo e do fascismo na Europa (na primeira metade do Século XX), especialmente na Alemanha e Itália, o uso das mídias e meios de comunicação existentes, eram comuns para propagarem ideias perigosas aos regimes democráticos e fortalecimento do nazifascismo, com as sociedades levadas a uma série confusões, quanto ao propósito dos defensores de tais ideias, e ao uso inicialmente de meios legais e das estruturas de estado para fins que possibilitassem a ascensão de tiranos e criminosos, que resultou em tragédias e no Holocausto. 

 

 

                                           Vídeo da Fundação Padre Anchieta, Arquivo Especial


                                  Episódio de Hoje na Segunda Guerra Mundial, dia 02 de Abril

 

O Tribunal de Nuremberg - YouTube

 

Organização política e propaganda Nazista no Brasil (1930-1945): O Nazismro tropicalizado - Ana M Dietrich - BibliotecaDigital TSEt

A "Solução Final": Uma Visão Geral - Enciclopédia do Holocausto, Holocaust Museum (USHMM.ORG) 

Holocausto - Pelo menos 1,1 milhão de judeus foram mortos em Auschwitz ... - UOL Educação 

75 anos da derrota do nazismo e do fascismo - Brasil de Fato 12.05.2020 

 

Todas as dores provocadas pelos atos e ideais nazistas ou fascistas, foram decorrentes de mentiras elaboradas, de atos concretos (de extermínio) e  associações de pessoas e grupos sociais (alinhadas a  pensamentos), segmentos que em dados momentos se apresentavam como integrados ao sistema democrático, e com falsas pretensões de liberdades e construção de um estado desenvolvido e forte (sobre bases ruins), dentre outras defesas, disseminadas em meio as significativas  manifestações de ódio, violências, discriminações, e planos de subjugar povos e outros grupos sociais como meio de dominação e poder (que originou a chamada "Solução Final"), mas ainda assim, de enganando ou escondendo parte dos meios trágicos que usariam (mortes em câmaras de gás e outros meios cruéis), mesmo o quanto afetariam negativamente os próprios supostos beneficiários das "transformações" que tais criminosos trariam, não só as suas nações e povos (como na posterior destruição da Alemanha e da Itália, e submissão à tutela internacional), fazendo de seus atos perversos, instrumentos e parte das estruturas políticas, sociais e de governo (dentre muitas contaminadas e usadas ao longo de suas intervenções más), que descambavam para um autoritarismo tirânico, cruel e irracional, negando e destruindo as bases das  suas democracias e de estados que pudessem conduzir a algum bem estar social (nisso, dentre outros aspectos, residem o perigo de um pensamento extremista, não tratado com a cautela e as devidas restrições necessárias, que os impedissem de semear tanta destruição que caracterizaram os atos nazifascistas e seus crimes contra humanidade).

 

Homem exibiu capacete e fez saudação nazista em vídeo Foto: Reprodução
Homem faz saudação nazista e usa capacete militar alemão da 2ª Guerras - Foto Reprodução - O Globo


Neonazismo no Brasil: relembre 12 casos que chocaram o país em 2021 - O Globo 29.12.2021 

Crimes de apologia ao nazismo crescem no Brasil nos últimos dois anos - CNN Brasil 20.10.2021

Como agem os grupos neonazistas do Brasil SUPER Abril 27.03.2018 

Região Sul do Brasil concentra cerca de 100 mil simpatizantes do neonazismo - R7 07.06.2014 

 

Tratar do tema é delicado e ainda mais em textos tão curtos quanto este, é insuficiente e não faz jus a todo mal e sofrimento causado desde então. Mas ainda assim, para além de questões relacionadas a escolhas ou opções políticas, filosóficas, sociológicas, ou de direito de expressão, as ideologias nazistas e fascistas são efetivamente dignas de criminalização e condenação, por atos resultantes e por ainda estarem impregnadas de variáveis desajustantes que aliciam muitos (especialmente jovens brancos), como a perseguição a minorias (que a época atingiam ciganos, homossexuais, etc), com persistente percepção de supremacia racial, como as nutridas na Alemanha dos anos 40 e ligadas a superioridade da raça ariana, com consequentes mortes e atrocidades, como as que foram submetidas aos judeus e ciganos (na Alemanha e em campos de concentrações em vários países), e que ainda hoje em alguma proporção persistem em ações de grupos neonazistas em partes da Europa e das Américas, ou por outras denominações que absorvem e se nutrem também dos ideais neofascistas (como skinheads, por exemplo), e agem ilegalmente como milícias e mesmo  em quadrilhas violentas, que atacam vítimas a esmo em muitas das grandes cidades, inclusive no Brasil. 


Imagem de Bolsonaro em saudação (semelhantes as nazifascistas) - Foro reprodução Poder360


Bolsonaro não é só Bolsonaro; é o fascismo politicamente estruturado, escreve Edson Barbosa...  - Poder360 01.10.2021

Ataques de Bolsonaro à imprensa aumentam 74% em 2021... - Carta Capital 28.07.2021 

Quem é o ministro nazista de Hitler cuja neta posou ao lado de Bolsonaro - Hypeness 26.07.2021 

Entrevista: ‘Bolsonaro é o populista que mais se aproximou do fascismo na história’, diz Federico Finchelstein - The Intercept 07.07.2020 

Conib repudia mensagem do governo que remete a lema nazista - DW 12.05.2020


É preciso lembrar que com a ascensão de Bolsonaro e o surgimento do bolsonarismo, há sinais muito forte de influências fascistas, nazistas, e de modos de pensar típico destes regimes, ou mesmo há situações que em muito se assemelham a forma de comunicar e agir dos contemporâneos de Hitler (ou de Mussolini na Itália) no início das suas organizações e no decorrer do tempo, com as ações de segmentos e personagens políticos e membros do atual governo, seja no discurso de viés absolutista (ditatorial, cruel), ou fortalecendo a formação ou desenvolvimento de estruturas milicianas (ou paramilitares), resultando na apologia a manifestações nazifascistas (até com retomada ou vistas em lembranças de gestos marcantes e em símbolos característicos dos movimentos), bem como na forma de tratar e perseguir ou discriminar, negros, nordestinos, homossexuais e outras minorias, e transformar negativamente as instituições e estruturas de poder e de governo, só para reforçar aspectos intrínsecos permeados por crimes, além de riscos concretos ao modelo de estado vigentes. Tal fenômeno inclusive, é visto em uma menor proporção ou de forma parecida em outros países, com ascensão da extrema direita, e de movimentos e "culturas" baseadas em gestos que chegam a minimizar ou categorizar a importância das pessoas (por sua origem, raça, credo, cor, cultura, opção sexual) sem o devido valor humano e gerando percepções deformadas sobre estas, mas quando descambam para formas mais explicitas e associadas as manifestações nazifascistas, são por muitos locais severamente condenadas e tratadas com rigor das leis, com forte repulsa social em países de maior consciência e formação cidadã.  


PF cita atuação de Bolsonaro e afirma ao STF que milícia digital usa gabinete do ódio e delegada se licencia - Folha de S Paulo 11.02.2022

Brasil: Bolsonaro ameaça pilares da democracia - HRW.org 15.09.2021 

Faz algum sentido comparar bolsonarismo com nazismo, como fez Celso de Mello?  - Gazeta do Povo 12.06.2020

'Cada vez mais humano', 'fedorentos', e 'massa de manobra': as declarações de Bolsonaro sobre os índios - Estadão 24.01.2020 

100 anos do fascismo: 'O perigo atual é que democracia vire repressão com apoio popular', diz historiador - BBC 24.03.2019 

Neonazismo: o rosto do nazismo na atualidade - Politize 05.10.2017 

  

Percebam que no contexto e na forma como ocorreu o fato no podcast, não há como dissociar as expressões do que  pode ser compreendido como apologia ao nazismo, e é falsa ou nada mais que cortina de fumaça ou dissimulação, a polêmica defesa de uma liberdade de expressão encampada por Monark e Kim, totalmente desprovida de responsabilidades, limites, e compromissos ou respeito a direitos maiores (como de escolha e eleições livres de manipulações e fake news), numa concepção ou tom absoluto, que pode e corroerá qualquer estrutura equilibrada e desejável a uma nação melhor.  No contexto usado pode-se entender que por mais absurda, idiota, que seja a concepção e defesa de posição, ela pode existir e ser tolerada (é o que defendem os irresponsáveis), a revelia de estar patrocinando ameaças ou ser uma produtora de mentiras, e mesmo que sua  existência ponha em cheque a própria manutenção do estado de direito, o bem estar das pessoas e a dignidade do cidadão e da sociedade. Isso é algo  no mínimo absurdo, é algo semelhante a alguém aceitar a existência de um câncer sem buscar meios de combater e eliminá-lo, antes que se espalhe e provoque danos maiores e a sua própria morte, apenas por imaginar ou pensar, que por este câncer ter se desenvolvido e existir dentro de seu corpo, lá pode permanecer e evoluir independente do que ao final irá provocar a quem o hospeda, ou pelo câncer é acometido e tomado.

 

Bolsonaro explora a miséria da Venezuela para encobrir a miséria do Brasil... - Leonardo Sakamoto UOL - 26.10.2021 

Bolsonaro não é nazista. Mas o bolsonarismo tem, sim, traços do nazismo - Estado de Minas 30.08.2021 

Como líderes evangélicos usam redes para apoiar ato pró-Bolsonaro - BBC 03.09.2021 

Bolsonaro prejudica mais pobres para se promover eleitoralmente, acusa Humberto Costa Fonte: Agência Senado - 17.09.2020 

A ambígua relação entre Hitler e a Igreja - SUPER Abril - 23.05.2018 

   

Triste é perceber que o nazismo e o fascismo, "nasceram" e se desenvolveram em nações com orientação cristã, que um líder sangrento como Hitler tinha e fazia de  si mesmo, a percepção de uma espécie de escolhido (um instrumento de Deus) e salvador de seu povo, e tanta perversidade e crueldade a que se seguiu a ascensão destes ícones extremistas ao poder, envolveu e contaminou muitas pessoas comuns que nada tinham haver com esses pensamentos distorcidos, e que não só neste segmento, encontrou campo fértil para se estabelecer como instrumento social e de estado, para "mudanças", "ações públicas" que foram apoiadas por "elites" sedentas de poder perdido, em meio a sociedades desgostosas, com sua cultura e história submetida a releituras equivocadas, e pessoas simples atingidas com sérios problemas sociais (fome, desemprego, humilhações e desigualdades crescentes), num ambiente adequado a mentiras e ódios, expostas as manipulações e políticas de desinformação, que serviram como estímulo a ascensão da violência e das perseguições como forma de construção de uma nação, uma ilusão sombria e maquiavélica produzida por inescrupulosos líderes.

 

Estudo acusa alta global do autoritarismo e cita Bolsonaro - DW 10.02.2022 

Brasil tem 14,4 milhões desempregados e taxa de desocupação de 14,1%... - Poder 360 31.08.2021 

O método Bolsonaro: um assalto à democracia em câmera lenta - El País 18.07.2021 

O que é um miliciano e por que a família Bolsonaro é associada a esse termo - O Povo 02.06.2021 

Dez fatos que ligam a família Bolsonaro a milicianos - Congresso em Foco UOL 23.12.2019 

 

Hoje, aqui mesmo no Brasil, vemos um ambiente bem parecido, com um falso líder ou falsos líderes, agindo com posturas muito semelhantes aos fascistas da época da ascensão nazifascismo, defendendo mesmo abertamente ideias condenadas e criminalizadas em decorrência da violência extrema contra humanidade, como se fosse algo banal.  O que Bolsonaro faz no poder assusta e é perigoso, manipula as estruturas de estado para criar uma cópia ou  versão brasileira de um governo extremista aos moldes do nazifascismo, manipula a boa fé de alguns cristãos (com lema ou frases inspiradas nos nazis, e às vezes usando Deus), defende abertamente ideias discriminatórias contra nordestinos, homossexuais, indígenas e outras minorias, falou abertamente em matar adversários (30 mil segundo ele), é simpático e próximos a figuras e grupos milicianos e de extremismo, com ideias paramilitares (inclusive formulou decretos favoráveis a milícias, de tendência armamentista, e a maior violência contra camponeses dentre tantos), defende privilégios e "pequenas elites", ataca instituições republicanas com frequência, além de ter forte viés ao intervencionismo militar e para construção de uma ditadura, baseada em falsas promessas e propagandas anticomunistas e antissocialistas, em desinformação e empobrecimento da cultura e da perda de educação entre a população, na precarização do acesso a economia ativa e ao trabalho formal, seguida do fortalecimento de pequenos grupos sociais e políticos, de milícias simpáticas ao seu governo, e com forte discurso de ódio nos moldes nazifascistas, tudo isso de forma até explicita e que já causam mortes, dor e miséria, como se vê de forma mais acentuada neste momento histórico (em plena pandemia), inclusive decorrente de seu comportamento negacionista reforçado por ministros e auxiliares e alguns segmentos, que de alguma forma também contribuíram para as mortes por COVID-19 e a falta de adequada atuação do Ministério da Saúde e de outras instituições sob o governo Bolsonaro, assim como contribui muito para o surgimento deste ambiente propício ao ressurgimento ou projeção de neonazistas, neofascistas e suas distorções e ideias subsistentes nos porões da sociedade (que se sentem à vontade para sair das sombras), que se materializam em atos de violência urbana contra pessoas e grupos, eventualmente, e cada vez mais intensamente.