quinta-feira, 20 de junho de 2013

O Brasil nas ruas?

A princípio é necessário deixar claro alguns pontos, que podem ajudar numa compreensão futura do que ocorre no Brasil nos últimos dias.  É claro que neste momento nada está absolutamente claro, excetuando uma insatisfação manifestada nas atos e eventos que se sucedem.

A maioria dos atos que ocorrem no Brasil envolve questões dispersas, onde não se pode concentrar a atenção em temas e reivindicações claras (ao menos em quanto questionamento ou pauta a discutir), e em alguns casos em meio aos protestos se pode observar questões (reivindicações) que podem até ser antagônicas, ou se inviabilizarem mutuamente.

Isto significa que não há insatisfações plausíveis de serem atendidas, ou que sejam sustentáveis a sua proposição e defesa em uma esfera de discussão, que exige uma organização e representação mínima dos movimentos?  Claro que não, a questão que pomos em discussão, é que sem uma forma mínima de organização, a tendência é haver um resfriamento após o momento atual com possibilidade mínimas de propostas e soluções concretas.

Parte da manifestação se deslocou para a av. Paulista, região central de São Paulo; grupo fechou a avenida / Marcelo Justus
Dilma adia viagem internacional devido a manifestações, diz Planalto - G1 20.06

Dilma Rousseff exalta manifestações e democracia no Brasil LANCENET!

Fica evidente que a questão dos transportes públicos, suas desestruturação, sua qualidade ruim e deficitária, algo que persiste as décadas e com tarifas a preços elevados, de fato foi o estopim das mobilizações.  Mas por incompetência ou habitualidade em acreditar que tais manifestações seriam pouco consistentes (e poderiam ser), não fosse uma resposta desproporcional, violenta e pouco atenta das autoridades públicas (em especial, municipais e estaduais), que alimentou e estimulou uma indignação generalizada.

Vejamos São Paulo, o movimento que conduziu inicialmente as reivindicações, não tinha uma representatividade significativa em termos de abrangência das camadas mais sensíveis aos serviços de transporte público.  Não mostrava pretensão de luta por outras causas a não ser a redução das tarifas de transporte, ou mesmo a total liberação, o que em si representaria uma perda de receita para investimento brutal (no caso da isenção total das passagens) e alguém, a camada mais baixa da sociedade pagaria a conta com o deslocamento de recursos de outras áreas.

A partir da reação das autoridades, muitas cidades e locais fizeram atos inicialmente para solidarizar-se ao movimento mais forte no eixo Rio-São Paulo.  A estes foram acrescidos atos que traziam gradativamente outras insatisfações à tona, mas que não tem se caracterizado em uma proposta ou pauta, mas apenas no extravasamento de expectativas não atendidas, ou não da forma mais abrangente e esperada por alguns.

Lula: "É a sociedade em movimentação em busca de novas conquistas." - Amigos do Presidente Lula 18.06

É bom ficar de olho em questões propostas, e no perfil que começa a ser apresentado dos manifestantes, de acordo com cada cidade e região.  Ainda é cedo para se traçar um diagnóstico preciso, mas já muitos pontos relevantes, e não nos referimos aos grupos punk's, de skatistas, de vândalos, oportunistas e marginais que se utilizam do momento para praticar crimes, furtos, saques e depredações.

Manifestante Pierre Ramon usa grade para quebrar os vidros da prefeitura / Joel Silva Folhpress 

Ele achou que era o dia dele', diz delegado sobre jovem que apedrejou Prefeitura de SP - Folha 19.06


Pessoas saquearam lojas na região central de São Paulo durante confusão / Fabio Braga  Folhapress

O que há de nítido é que apesar de alguns  tentarem capitalizar os movimentos, sejam eles vinculados a grupos políticos, tendências sociais minoritárias que tentam aderir como se a proposta defendida por estes fossem a bandeira defendida pela maioria, NÃO HÁ UMA UNIFORMIDADE DE QUESTÕES PARA UMA PAUTA E UM DIÁLOGO COM ATORES CLAROS E DEFINIDOS EM UMA MESA DE NEGOCIAÇÃO.

Em alguns momentos há uma tentativa da imprensa (ou parte dela) de conduzir os atos, tentando politizar, criar bandeiras e forçar uma interpretação política para as manifestações nas ruas.

Não são recentes as questões pautadas, e claro que são válidas muitas das cobranças apresentadas, mas não é convincente as explicações e as relações criadas e propostas pela mídia:

- O que tem haver a discussão da PEC 37 em tramitação na Câmara, ponto levantado por alguns jornalistas a partir de alguns cartazes em duas ou três capitais, e a greve dos professores de Juazeiro no CE?

- O MPL luta pela redução da tarifa de ônibus, trens e metrô, e não levanta questionamentos políticos e econômicos de ordem mais ampla, para que possa ser sugerido como um levante contra os fundamentos políticos e econômicos do Governo Dilma. É bom salientar que o perfil dos estudantes envolvidos, são de pessoas oriundas de classe média e muitas das quais nem usam o transporte público;

Há inclusive um foco meio oportunista e que não apresenta todas as facetas e aspectos envolvidos, como que pegando carona em uma indignação concreta, mas cuja amplitude ainda não se pode definir e nem a quem atinge, para vender externamente uma imagem negativa, não totalmente ingênua nem despropositada, e que é amplificada em redes sociais e mídias.  Nós não enxergamos um alvo político único e bem dirigido, exceto os relacionados as administrações municipais e em alguns casos envolvidas na questão tarifaria.

É preciso no entanto frisar, que mesmo a mídia televisiva tem sido alvo das insatisfações, e informações dadas por nossos contatos em São Paulo, dão conta de que repórteres de algumas emissoras e jornais tem sido abertamente hostilizados.  Há informações de que alguns que trabalham em grandes tv's escondem logotipos e identificações que possam ser vistas por manifestantes, em razão de hostilidades.

Imprensa é agredida por manifestantes - AIP 19.06.2013

BRASIL Manifestantes queimam carro de jornalismo da Rede Record - Tribuna Hoje 18.06

Carro (geradora) da TV  Record incendiado - Reprodução AIP
Jornalista do "Estado" é agredido por manifestante - ABERT

SP: repórter da TV Bandeirantes é agredida em cobertura de protesto - Terra 18.06.

Insatisfação sempre haverá, e todos nós temos, mas é preciso neste momento filtrar as que por ventura não abrem possibilidade de discussão e amadurecimento de debates em prol de mudanças factíveis.  É preciso canalizar, organizar e propor reivindicações que possam ser direcionadas a interlocutores do Estado;

Acho sinceramente que apesar de bonitas atitudes e uma louvável mobilização, os eventos semelhantes aos occupy wall street, carecem de pauta de reivindicação clara, definida e propositiva, com representantes e interlocutores de alguma representatividade, não vinculados a partidos e estruturas vencidas, que possam forçar a manifestação e criação de mesas de negociações nas esferas necessárias.  Caso contrário temos a possibilidade de ver o movimento se esgotar ou se confrontar mutuamente, com grupos e pessoas tomando posições e atitudes que se anulam mutuamente.  Apesar de tudo as manifestações pacificas merecem aplausos e parabéns por fazer ressurgir o desejo de expressão popular!

Parlamentares dizem não identificar líderes do protesto para dialogar - G1 20.06

É PRECISO CUIDADO E MUITA RESPONSABILIDADE, PARA NÃO DETURPAR ALGO LEGÍTIMO E QUE CREIO QUE AMADURECIDO PODE SER BENÉFICO!

A MANIFESTAÇÃO POPULAR É ALGO NECESSÁRIO E QUE PRECISA SER RESGUARDADA DE INTERESSES POUCOS SAUDÁVEIS, PARA QUE ALGUNS NÃO MANIPULEM A JUSTA AÇÃO POPULAR, EM ESPECIAL QUANDO SE TEM EM VISTA UM PROCESSO ELEITORAL QUE PODE SER SIGNIFICATIVO PARA ESTA SOCIEDADE!

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